Poema de Cassiano Ricardo. o melhor poeta brasileiro
Meus heróis, caborés, topetudos de todos os naipes,
Tabaréus, canhamboras, capangas,
cangaceiros do sul ou jagunços do norte,
curimbabas riscando com a ponta da faca a camisa
de um 'cabra', ou pegando onça a unha,
crianças do mato
brincando com a morte!
Meus irmãos sem destino,
piraqu- 'Vejo um Brasil todo cheio de dínamos e apitos de fábricas, que
pula do mato.
E vejo um Brasil que a bandeira deixou amarrado com o sangue dos
rios.
E vejo um Brasil onde há rios de todas as cores!
E onde há heróis pintalgados com a tinta de todas as raças.
E vejo lá em cima o tapuio
contando que viu a boiúna
sair da lagoa
pra prender as cunhãs
com o feitiço das suas
muirakitans.
E vejo o paroara que habita uma terra onde a terra não pára.
E vejo o matuto cearense pequeno no porte e gigante na audácia.
E vejo o mané chique-chique varando a caatinga
na terra torrada no forno do sol
sob o sol que virou uma estrela e caiu sobre o chão na paisagem
tranqüila
onde há muito não pinga uma gota de orvalho
mas onde o mistério do arco-íris cintila
no suor do trabalho.
Meus heróis valentões, pala ao ombro e chilenas de prata arrastadas
no chão
com o barulho das botas!
Meus gaúchos vigiando a fronteira
Montados nos pingos fogosos, na verde planície que estampa
em seu verde ondulado e macio
a bandeira da pátria estendia no pampa...aras, caiçaras,
faiscadores de diamantes, seringueiros,
laçadores de touros, boiadeiros,
nadadores, canoeiros agrestes,
atravessando em violentas braçadas
os 'chupadô' de água noturno e taciturna
e os 'frevô' de água espumenta e barulhenta.
Filhos rudes da terra
sem graça ou cheinha de graças,
e amassados com o barro ainda virgem
da criação e com a tinta de todas as raças.
E marcados por todas
as chuvas por todos os ventos
por todos os sóis
e por todos os climas
por todos os sofrimentos!
Meus irmãos!
Meus heróis!'.